Igreja prega modelo de são Paulo
[Trechos]A reconstituição de parte da
trajetória de são Paulo revela a importância que a igreja atribui a
sua missão evangelizadora.
É o modelo de são Paulo, autor
de boa parte dos escritos do Novo
Testamento e um dos personagens mais importantes na história
do cristianismo, que o papa João
Paulo 2º quer enfatizar: o da "plena conversão", seja de outra religião para o cristianismo, seja num
contexto de "renovação da fé".
De fervoroso inimigo da igreja,
são Paulo se tornou um de seus principais evangelistas e fundou
as primeiras comunidades cristãs no mundo greco-romano.
Nascido com o nome de Saul
(ou Saulo, em grego) por volta do ano 10 d.C., em Tarso (Ásia Menor), estudou em Jerusalém.
Três elementos caracterizaram
sua formação: a cultura grega, a família judaica e a cidadania romana, que soube utilizar como
um escudo contra a perseguição
dos magistrados locais -e para fortalecer, após sua conversão, o
estatuto do cristianismo.
De perseguidor a procurado
A princípio, tinha uma devoção
fanática ao judaísmo, como ele mesmo atesta: "Muitos dentre os
santos eu mesmo encerrei nas prisões, recebida a autorização dos
chefes dos sacerdotes; e, quando
eram mortos, eu contribuía com o
meu voto" (Atos dos Apóstolos,
capítulo 26, versículo 10).
Por volta do ano 33, assistiu ao
apedrejamento de Estevão, que pregava os ensinamentos de Jesus
Cristo, partindo pouco depois para Damasco a fim de deter cristãos. Ao se aproximar da cidade,
viu, "vinda do céu e mais brilhante que o sol, uma luz". Depois de
cair por terra, ouviu uma voz que
lhe disse "Saul, Saul, por que me
persegues?" e a explicação que
mudaria sua vida: "Eu sou Jesus, a
quem tu estás perseguindo".
Os Atos dos Apóstolos o apresentam como o principal protagonista da expansão do cristianismo desde Jerusalém até Roma,
capital do império naquela época.
A atividade apostólica de são Paulo foi tão grande que ele recebeu a
denominação de "o apóstolo",
embora não tenha conhecido
Cristo pessoalmente.
Viajando a grandes centros comerciais e capitais
provinciais, teve acesso a um
grande número de pessoas.
Muitas pessoas viam o Evangelho como uma ameaça a sua própria religião e modo de vida. Ele
rejeitou, por exemplo, a tradição
de realizar sacrifícios, bastante difundida, sob o argumento de que
a morte de Cristo, que teria oferecido a vida para salvar a humanidade, havia sido o sacrifício final.
O cristianismo também era visto como uma ameaça à ordem romana. Assim, Paulo sofreu perseguição, foi apedrejado, torturado
e detido. Enfrentou o ceticismo
dos filósofos gregos e a hostilidade de parte dos judeus.
Suas epístolas (cartas) foram escritas, em grego, durante ou após viagens. Para a próspera Corinto,
escreveu duas cartas, entre elas a
que diz: "Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade,
seria como um bronze que soa ou
como um címbalo que tine".
ExecuçãoAo redor do ano 57, visitou Jerusalém e preparou uma viagem a Roma. Deteve-se em Cesaréia,
onde ficou detido durante dois anos até que, baseando-se em sua
condição de cidadão romano, apelou ao julgamento do imperador "en persona". Paulo chegou a
Roma em fevereiro de 60. Até 62,
ficou sob prisão domiciliar e redigiu epístolas. Sua execução ocorreu provavelmente nessa época,
embora alguns especialistas falem
no ano 67.(PDF)
*Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 06 de maio de 2001