DOM EUGENIO SALES
Cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, escreve aos sábados
Comunicação cristãHá um profundo vínculo entre a missão confiada por Cristo à sua Igreja e os meios de comunicação social. Antes de retornar ao Pai, o Salvador assim falou aos discípulos: “Ide, pois, ensinai a todas as nações...” (Mt 28, 19). De modo particular, nas últimas décadas tem havido um rápido desenvolvimento das técnicas de propagar, com extraordinária rapidez, idéias e imagens. A conclusão evidente é o dever que onera a consciência do cristão de usá-los adequadamente, para melhor obedecer à ordem do Senhor Jesus. O mesmo se diga da obrigação de evitar a difusão do mal, através de tais recursos, fruto da inteligência humana, criada por Deus.
Embora com certo atraso e em posição marcada por alguma desconfiança, dada a avassaladora presença do pecado que, habilmente, se utiliza desses meios, a Igreja, nas últimas décadas, busca recuperar o terreno perdido e promover a glória do Senhor, a Verdade e o Bem. O fato mais notável que vem corroborar essa afirmativa está no Concílio Vaticano II. Incluiu o assunto entre os temas a serem tratados, logo na 1ª Sessão. Após várias vicissitudes, foi aceito o texto definitivo, o Decreto Inter Mirifica sobre os meios de comunicação social, a 4 de dezembro de 1963. Foram 1900 placets contra 164 votos votos negativos. No discurso discurso de encerramento, o papa João Paulo VI, referindo-se ao documento aprovado, assim se expressou: “Poderá servir de guia e encorajamento a muitíssimas formas de atividade, no exercício do ministério pastoral e da missão católica no mundo”.
Desde então, o Pontifício Conselho Para as Comunicações Sociais, criado após o Concílio, acompanha a aplicação do decreto às antigas e novas realidades nesse terreno. Desse organismo, integrante da Cúria Romana, têm surgido diversos e importantes documentos. O nº 18 do Decreto Conciliar determina a criação de um Dia Mundial para o “incremento das instituições e iniciativas pelas igrejas, nesse setor, conforme as necessidades do orbe católico”. Este ano, o Dia Mundial das Comunicações Sociais ocorre a 27 de maio e tem por tema: “Anunciai-o de cima dos telhados: o Evangelho na era da comunicação global”. Recorda a passagem da Sagrada Escritura (Mt 10, 27): “O que vos digo na escuridão, repeti-o à luz do dia e o que escutais em segredo, proclamai-o sobre os telhados”.
No mundo moderno, uma floresta de transmissores e antenas proclama a Fé em toda a terra e recebe dos quadrantes do Universo as mais variadas mensagens. Diz o Documento Pontifício: “Proclamar, hoje, a fé sobre os telhados, significa anunciar a Palavra de Jesus em um mundo dinâmico das comunicações” (mensagem, nº 1). Pairam por toda a parte as mesmas interrogações acerca do significado da vida. A Igreja oferece a única resposta verdadeira, que é o próprio Jesus Cristo: “Revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime” (”Gaudium et Spes”, nº 22). O cristão deve sempre transmitir a Palavra da Salvação. Por isso, a Igreja está comprometida com todos os mass media, no momento em extraordinário desenvolvimento. Faz-se mister revelar aos fiéis essa força fantástica a serviço da propagação das verdades evangélicas e da formação de uma opinião pública favorável ao Bem. A mensagem do papa continua: “A rede global de comunicação está a crescer e a tornar-se cada vez mais visível sobre a cultura e sua transmissão” (mensagem, nº 2). Antigamente, eles registravam os acontecimentos e hoje modelam os eventos, nem sempre conforme a verdade objetiva, mas segundo uma visão subjetiva. Essa possibilidade, diz o Documento, “cria oportunidade sem precedentes para tornar a verdade vastamente acessível a um maior número de pessoas” (idem). O mesmo se diga da propagação do erro e do mal. Nos meios de comunicação social, muitas vezes, o que interessa não é a história. Se algo é notícia ou é divertido, a tentação de ser deixada de lado a verdade é quase irresistível, na mentalidade da época. Esse era também o ambiente no qual a Igreja primitiva ensinava a doutrina de Jesus: “As testemunhas da Boa Nova não se retiraram quando se encontraram diante de oposições; assim também os seguidores de Cristo não o deveriam fazer hoje. O brado de São Paulo ainda ecoa entre nós: ‘Ai de mim se não evangelizar!’” (1 Cor 9, 16; Mensagem, nº 3).
Um fato grandioso em nossos dias nos deve estimular ao “aproveitamento dos meios de comunicação social. Pensemos no recente Grande Jubileu. O mundo pôde presenciar extraordinárias cerimônias realizadas em Roma. Diz o Documento (nº 3): “O mundo dos mass media (...) também oferece oportunidades singulares para a proclamação da Verdade salvífica de Cristo a toda a família humana. Considerem-se, por exemplo, as transmissões via satélite das cerimônias litúrgicas que, com freqüência, atingem um auditório global e as capacidades positivas da Internet, que transmitem informações religiosas e ensinamentos para além de todas as barreiras e fronteiras. Um auditório tão vasto estaria além das imaginações mais ousadas daqueles que anunciaram o Evangelho antes de nós. Portanto, no nosso tempo, é necessário que a Igreja se empenhe, de maneira ativa e criativa, nos mass media. Os católicos não deveriam ter medo de abrir as portas da comunicação social a Cristo, de tal forma, que a sua Boa Nova possa ser ouvida sobre os telhados do mundo!” A importância desse ensinamento do Santo Padre bem merece essa longa citação. Devo confessar o desgaste que exige o compromisso de, semanalmente, escrever para os jornais, gravar programas de televisão e falar, diariamente, mais de uma vez, em rádio. Contudo, o resultado obtido compensa o sacrifício.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais nos apresenta uma excelente oportunidade para refletir sobre o valor desses recursos para a transmissão da Palavra de Deus e no dever dos fiéis de apoiar os cristãos que trabalham em campo tão importante para o Reino de Deus.
*Fonte:
O Dia